Era uma vez um bruxo muito rico que tinha uma bola de cristal. Quando nasceu o seu filho, foi ver na bola de cristal qual seria o seu futuro e viu que ele se iria casar com uma rapariga muito pobre. O homem viu quem era o pai da rapariga e foi falar com ele: “Sei que tiveste mais uma filha. Como já tens muitos outros, eu posso tomar conta dela e dar-lhe uma vida boa”. O homem, agradecido, aceitou. O bruxo levou a menina para longe, até à beira de um riacho. Pegou no cesto onde ela estava e colocou-o na água: “A corrente levar-te-á para bem longe daqui, onde o meu filho nunca te conhecerá”. A cesta seguiu rio abaixo até que um pescador a viu e apanhou. Ficou tão surpreendido e cheio de pena daquela criança, que a levou para casa e a adoptou como sua filha.
A menina cresceu e ficou muito bonita. Um dia, o bruxo viajava com uns companheiros e pararam nas margens do rio para descansar e comer. Tinham ido deixar o filho do bruxo na casa do seu irmão, para que pudesse aprender a gerir os negócios da família. Pediram à mulher do pescador que lhes arranjasse de comer e beber. Os viajantes foram servidos pela filha do pescador e, impressionados com a beleza da rapariga, pediram ao bruxo para ver qual seria o seu futuro. O bruxo tirou a bola de cristal e, para seu espanto, descobriu que era a menina que ele tinha colocado no cesto. Zangado, pensou num plano e disse à rapariga: “Posso dar-te uma rica vida, se o desejares. Basta levares uma carta ao meu irmão e não terás que te preocupar com o teu futuro”. A rapariga hesitou mas acabou por aceitar a proposta. O bruxo escreveu então num pedaço papel, sem que ela visse: “Caro irmão, peço-te que prendas esta rapariga no calabouço e não deixes que o meu filho a veja”. O bruxo selou então a carta e mandou-a para casa do irmão.
A rapariga pôs-se a caminho e a meio do dia parou numa estalagem. Enquanto comia e descansava, entrou um grupo de ladrões que pediu a todos os clientes que lhes entregassem os seus bens. Os homens descobriram a carta e abriram-na. Ao verem o que dizia, decidiram alterar a carta: “Caro irmão, peço-te que cases esta rapariga com o meu filho imediatamente”. E fecharam a carta com o selo. A rapariga chegou finalmente à casa do irmão do bruxo que, ao ler a carta, mandou tratar logo do casamento. Em poucos dias, a rapariga e o filho do bruxo estavam casados. O rapaz era muito educado e gentil e tratava muito bem a rapariga, que começou a gostar muito dele.
Um dia veio o bruxo visitar o irmão e o filho e descobriu que o seu plano tinha falhado. Levou então a rapariga para um passeio e, perto de uma gruta abandonada, na margem de um rio, disse-lhe: “Já tentei tudo para me ver livre de ti. Vou-te prender nesta gruta e ninguém te vai descobrir”. A rapariga chorou muito e pediu-lhe para ele não a deixar ali: “Faço tudo o que me pedir. Vou para bem longe e só voltarei a ver o seu filho quando o senhor o desejar”. O bruxo acabou por aceitar e, retirando o seu anel, disse: “Que eu só te volte a ver quando me mostrares este anel”. E atirou-o para o rio. A rapariga fugiu e chegou ao palácio de um fidalgo. Decidiu pedir trabalho e colocaram-na na cozinha. Um dia, houve um banquete e à rapariga coube arranjar o peixe para os convidados. Quando estava a abrir um peixe, viu o anel do bruxo. Ficou muito surpreendida e guardou-o. Quando os criados foram servir os convidados, a rapariga descobriu que, entre eles, estavam o bruxo e o filho, seu marido. Então aproximou-se, abriu a mão e entregou o anel ao bruxo que, surpreendido, disse a toda a gente: “Esta é a mulher do meu filho. O destino uniu-os e nada os poderá separar”. Então nunca mais se afastaram e viveram felizes para sempre.
Texto adaptado por Sónia Santos e Ricardo Domingos
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